10 janeiro 2011

O Sucesso de um Conto (e motivos para o ler)

A arte é, para mim, o que de melhor saiu da alma humana. Mas também pode ser ingrata. O artista, principalmente se for um artista marginal, maldito, que não está presente na grande mídia, além de ser criador, deve ser também seu próprio empresário/publicitário/editor, tudo, enfim. Não basta ao artista marginal criar. Deve ainda divulgar o que escreve, realizar sua própria propaganda, autopromover-se. Porque são raros os que se propõem a fazer a propaganda de alguém relativamente desconhecido. E porque, é ostensível,  o sentido da arte não é só a sua existência, a sua criação, mas também é fundamental a sua recepção pelo público.

De modo que para que se leia a  obra de alguém que pouco se conhece, é necessário que se deixe alguns motivos, e tais motivos podem ser a opinião de alguns leitores. É o que farei aqui. Alguns de meus contos são publicados em um dos mais importantes sites de literatura fantástica do Brasil, o Estronho e Esquésito. Um deles, o conto "A Lenta Morte da Mulher Bela" recebeu um número expressivo de comentários. Transcreverei alguns aqui no blog, com a intenção de que suscitem nos leitores o interesse de o ler, do começo ao fim, espero. Talvez alguns julguem isso como um exibicionismo. Não serei hipócrita em dizer que não há nada de exibicionismo no ato. Porém, todo ser humano é exibicionista, todos gostam de ver suas qualidades apreciadas. Alguns são discretos, mais reservados, mais conscienciosos, outros chegam a ser insuportáveis. Mas todos temos ao menos um pouco de exibicionismo. Negá-lo é uma hipocrisia. No entanto, minha intenção maior é, realmente, estimular os leitores a conhecerem e interagirem com o meu trabalho. Abaixo, alguns comentários deixados no citado site (aqui o link), e, em seguida, o conto: 

De Júlio César Vieira:

Com certeza um dos melhores contos que eu já li.
É incrível a comparação e a gente não consegue parar de ler, vai devorando. 

De Alessandra Bellan:

Parabéns pelo excelente conto!
Suas descrições são de tirar o fôlego. Pude visualizar os ambientes com clareza, sentindo todo o clima denso que é criado na história, linha após linha. Adorei o final! Digno de reflexão. 

De Rafael Schiabel:

Terminei a leitura emitindo um expressivo "Nossa!".
As palavras usadas e as descrições da mulher e da bestialidade de seus companheiros de quarto me fizeram adentrar na história.
Alessandro se mostrou um ótimo escritor. O clima sombrio e o sofrimento da mulher ficaram excelentes, além de proporcionar ao leitor uma reflexão sobre o que fizemos e ainda estamos fazendo com nosso planeta.

De Marina Rosa:

Realmente muito bom conto. Devorei com os olhos a tela desde o começo em uma imensa expectativa. O suspense contido no conto me levou a ficar até um pouco entorpecida no final, com a resolução e ainda querendo mais.
É fácil imaginar o estado da mulher bela da forma como é retratado, repugnante e ao mesmo tempo impressionantem ente impossível de parar de ler.
Excelente leitura, e muito boa para reflexão também. Adorei.

De Valdênia:

incrível, maravilhoso...
um conto surpreendente, rico e emocionante.
jamais imaginaria este final e no entanto ele fez mto mais sentido que qualquer outro.

De Joana D'arc Maciel:

Não esperava um desfecho como esse...realmente nos faz refletir sobre as nossas atitudes, a nossa indifença para com os problemas da Terra, que é nosso lar, nossa base, um dos motivos pelo qual vivemos.
Além disso, a narração do autor foi brilhante...me fez adentrar na cena, como se eu vivenciasse o momento, a dor e o sofrimento da mulher.

Aproveitando, deixo ainda este comentário, feito sobre o meu conto mais recente publicado, "O Meu 33º Assassinato". O comentário é de José Jorge (aqui o link):

Sem dúvida, um conto muitíssimo bem engendrado, digno de figurar entre os mais famosos casos de mistérios policiais!
O autor pareceu-me ser um profundo conhecedor da natureza humana, bem como dos seus inúmeros problemas psíquicos.
Vá em frente, amigo, você tem futuro, mas espero que nunca lhe ocorra a idéia de usar seu talento para fazer o mal, certo? 


A Lenta Morte da Mulher Bela


A magnífica beleza daquela mulher deslumbrava a todos. Mesmo agora, gravemente doente, sua beleza ainda encantava. Mas um intenso sofrimento era plenamente visível em seu rosto de olhos fundos e encovados. Sua doença era verdadeiramente terrível, impiedosa, e, aos poucos, bem aos poucos, em uma extrema e quase imperceptível lentidão de brutal angústia, seu organismo ia sendo consumido pela absurda enfermidade. Era como a mais desolada e arrastada das marchas fúnebres.


Enfermidade que a definhava de uma forma digna da mais elevada comiseração. Seus sintomas algumas vezes surgiam, noutras, desapareciam por completo. Porém, quando retornavam, eram ainda mais violentos. Dores insuportáveis em todas as partes do corpo. Ela chorava copiosamente nestes momentos. Mas o que assombrava ainda mais era a inexplicável indiferença com que quase todos observavam a sua agonia.

Das dez pessoas que viviam em seu quarto, apenas uma delas sentia verdadeira piedade ao vê-la morrer de maneira tão lenta e sofrível. As outras aparentavam não se dar conta da devastadora desolação que acometia a bela e pobre mulher. No entanto, todos afirmavam que conheciam sua doença, que sabiam de suas causas a fundo e que possuíam a cura para a pavorosa e fatal enfermidade. Consideravam-se médicos de extrema perspicácia e inteligência. Havia até alguns que diziam que a doença não era grave, que seria facilmente curada e que exageravam no julgamento da intensidade de seus sintomas. Mas ainda não a haviam curado, apesar de todas as tentativas de fazê-lo, tentativas em realidade estúpidas, vergonhosamente insuficientes, enfim, absolutamente inúteis.
Todos os dez indivíduos também afirmavam com total segurança que conheciam o fato de que eles, todos eles, eram os responsáveis, os culpados pela bela mulher agora se encontrar enferma. Sim, a moléstia que a afetava foi causada pelas dez pessoas que viviam em seu quarto. Viviam em seu quarto e dependiam da bela mulher para tudo, para absolutamente tudo, inclusive para viver. Não viveriam sem ela. Daí então a urgente necessidade de curá-la. Se ela morresse, todos os dez morreriam com ela.

De modo que assombrava, era quase inacreditável a indiferença com que seus companheiros de quarto contemplavam a sobrenatural agonia que a passos de anômala marcha fúnebre levava aquela linda mulher a uma morte dolorosa e implacável. Algo realmente incompreensível. O que passaria pela mente dos cinco homens e das cinco mulheres que ali naquele quarto de doença viviam? O que passaria por seus sentimentos?

Talvez os moradores do quarto já estivessem tão habituados com a doença que causaram à mulher que já nem eram capazes de se emocionar com o vagaroso, lento, gradual sofrimento que ela irradiava. Havia ali somente uma pessoa que ainda agia intentando acender os sentimentos dos outros para que realmente tomassem consciência da iminente situação em que se encontravam. Porém, sempre inútil.

Mais e mais o clima reinante naquele quarto tornava-se pesado e nervoso. Sombras pesarosas iam surgindo dos cantos do ambiente carregado de densos espectros de ocaso. Lentamente, numa lentidão que parecia eterna. Em alguns momentos, luzes cintilavam em algumas pequenas reentrâncias quase ocultas que traziam consigo determinada esperança. Porém, em pouco tempo eram rapidamente subjugadas por nuvens escuras de uma fumaça de ignota origem.

Sistematicamente, a bela mulher em sua suprema agonia emitia gritos horripilantes, gemidos dilaceradores, que ensurdeciam e inflamavam os ouvidos dos seus companheiros de quarto, a ponto de sangrá-los. Mesmo assim, raramente se emocionavam, bem raramente...

Os gritos da bela mulher não eram reações desesperadas somente às suas dores excruciantes, mas ela reagia também às terríveis chagas que surgiam em todo o seu corpo e sangravam de forma inclemente, espargindo um sangue pútrido e mau-cheiroso, que se derramava por toda a cama, maculando os brancos lençóis e carregando o ar impuro de pestilentas emanações. As chagas desapareciam com o passar dos arrastados dias, mas sempre retornavam, cada vez piores, em cores mórbidas que iam do vermelho, ao roxo e finalmente ao negro.

E as pessoas ali respiravam aquela atmosfera mefítica, com uma imbecil tranquilidade sorridente. A mulher ardia em febre, e sua febre irradiava-se pelo ar, elevando a temperatura gradativamente. Ondas de enfermidade visivelmente partiam de seus entristecidos olhares de negras olheiras. Suas lágrimas não cessavam de escorrer como orvalhos de desgraça por seus miríficos cabelos negros. Sua face pálida e cadavérica implorava por misericórdia. No entanto, aqueles que viviam em seu quarto apresentavam um comportamento tão estúpido, tão indiferente, tão agressivo e miserável, que faziam, ainda que inconscientemente, com que a moléstia da mulher se agravasse ainda mais.

Em um instante soou um luto deprimente. E nas atmosferas ensombrecidas, mornas de enfermidade, densas de pesadelos, assomou pelo ambiente degradado a tensão desesperada de uma trágica marcha fúnebre. E suas notas noturnas vibravam como sinos agourentos de palpáveis maldições. Simultaneamente, adejaram pela janela as asas de um corvo que surgiu da noite distante, do espaço longínquo, e fitou seus olhos fundos de sentenças nas pessoas que ali no quarto estavam. O corvo assemelhava-se a um anjo. Trazia uma carta no bico.

Às vezes, os dias transcorriam em aparente serenidade. A serenidade funesta que antecede as mais devastadoras tormentas. E nos dias lentos, rastejantes, de tensão insuportável, relâmpagos e trovões, por vezes distantes, por vezes próximos, espargiam horrores e deixavam um odor ominoso pelo ambiente do quarto. E o clima obscurecia-se paulatinamente.

Ataques golfejantes de tosse assediavam os pulmões da bela mulher. Golfadas espessas de sangue espalhavam-se por todo o aposento. Um catarro amarelecido descia canhestramente de seu nariz. Ela debatia-se e revirava-se na cama inundada de um suor ardente, pegajoso e febril.

Pela janela semiaberta do quarto, uma estranha luminosidade avermelhada penetrou no ambiente de dúvidas e desesperos adejantes. A bela mulher desvairava, inebriada das mais absurdas catástrofes. Contorcendo-se de dor em todos os seus órgãos, ela levava as mãos amareladas e ressequidas, de veias proeminentes, à cabeça que latejava freneticamente.
Um sopro anômalo e rubro de sangue entrou com diabólica violência pela janela entreaberta. Tal sopro deve ter afetado a sanidade da bela mulher. Agonizante, como um furacão ela redobrou suas forças para erguer-se da cama sanguinolenta. Insana, descontrolada, enlouquecida, ela agarrou com suas mãos crispadas, de unhas crescidas e ensanguentadas, um por um o pescoço daqueles que viviam em seu quarto e os estrangulou com fúria alucinante. Nove dos dez moradores do quarto foram mortos dessa forma. Apenas aquela mulher que sinceramente tentava ajudar a bela enferma foi poupada. E, nesse instante, uma tênue fagulha de vida refulgiu em seus enormes olhos verdes. E o nome da bela mulher era Terra.

08 janeiro 2011

Tua Mão na Minha

não há fácil diante da tua face
não há jeito
o frio da tua mão de paz
silência nas fibras do meu peito...
quando tentei te abandonar
sangrou-me algo como ar
os teus passos
sempre passaram junto aos meus
e eu temo o teu compasso
e o teu ritmo de (as)salto
agarrou-me pelo braço
e vi segredo nos teus dedos
e teu braço nos meus medos...

há sopro e sempre
pela sombra dos teus olhos
e doce éter este dos teus óleos
que se derrama no meu nunca
e violinam na minha nuca
és nuvem em violino
clara
e saltos no meu destino
alma
quando tentei faltar-me o céu
névoa subiu-me aos lábios
meus sentidos coronários
estão em ti há a(s)cender
e ocultaste no que me pulso
que Deus é o sempre Ser.

07 janeiro 2011

II Fórum Latino-Americano de Literatura e IV Encontro de Escritores do MERCOSUL

A Casa do Poeta de Santiago e o Centro de Integração Latino-Americana realizarão, nos dias 14, 15 e 16 de janeiro de 2011, na Câmara de Vereadores de Santiago/RS, o II Fórum Latino-Americano de Literatura e IV Encontro de Escritores do MERCOSUL.

Qualquer interessado poderá participar do evento. O investimento é de R$ 20,00, e será fornecido um certificado de participação de 25h. As inscrições podem ser feitas na Casa do Poeta de Santiago. Confira, abaixo, o cronograma do evento:



05 janeiro 2011

Verssoss Impassíveiss

entre o ssim e o ssom
ssilenssia o sséu esstranho
do teu ssegredo...

há calma d’alma
que nada abala
que nunca passa
teu ssempre ssábio
ssol de ssonata
adagio largo
e calma d’água
que nada...

...(a)tinge
adagio lago
que pedra alguma
perturba
infringe

tranquila alaga
nada em meu nada
na calma da adaga
que ninguém enfrenta
ou afaga

ssingra o teu ssopro
maternal ssereno
ao ssereno da sselva
ssangra o teu ssonho
de fogo
a que todo sser
sse rende...

éss como um ssilvo
de sserpente
que assende...

(Na imagem, uma escultura da deusa egípcia Ísis)

04 janeiro 2011

Eu preferiria Tiririca a José Otávio Germano, Marco Peixoto, Mano Changes, Danrlei...

Ano novo e (alguns) deputados novos. Mas a merda continua. Só que agora a merda é mais bem paga. Aumentaram um pouquinho os salários dos representantes do povo. Merecem, afinal, representar este povo brasileiro burro e pobre não é fácil. É, o mundo mudou. Antes eram os nobres que nadavam no dinheiro enquanto o povo agonizava. Agora são os políticos.

Pois é, e virou moda todos falarem mal do Tiririca. Não entendo. Tem muito deputado pior que ele e ninguém fala nada. Qual o problema do Tiririca? Porque ele é palhaço e ignorante? É o retrato do povo: palhaço e ignorante. Por que as pessoas que se acham muito inteligentes não dizem que é também um absurdo REelegerem alguém que passou todo um mandato sempre envolvido em suspeitas de ladroagem, como o nobre deputado José Otávio Germano, exibindo sua eterna cara-de-pau, com suspeitas até pelo pescoço no caso do DETRAN, que, para variar, virou pizza?

E o povo o reelegeu. E disso ninguém fala nada. O que o Germano tem de melhor que o Tiririca? Se o Tiririca se candidatasse pelo RS e ocorresse a tragédia de os outros candidatos serem, por exemplo, José Otávio Germano, Marco Peixoto, Mano Changes e Danrlei, eu votaria no Tiririca. Sem titubear.

O Marco Peixoto sempre defendeu os interesses dos ricos, sempre esteve do lado da Deusmelivre Yeda Cruzes!, foi suspeito de estar envolvido em algumas fraudezinhas que não investigaram direito, como a do DETRAN, e ficou por isso mesmo... O      que o Marco Peixoto tem de melhor que o Tiririca? Mais dinheiro? Não, o Tiririca deve ser rico também. Mas nasceu pobre. Já o Marco Peixoto nasceu em berço de ouro. E isso já seria um motivo suficiente para não votar no Marco. Agora, o sr. Peixoto, depois de todas as suspeitas não comprovadas (e não investigadas) é conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. Haha! Essa piada nem o Tiririca faria.

E o Mano Changes? Um idiota vocalista (acho) duma banda totalmente imbecil conhecida como “Comunidade Ninjitsu” (nem sei se é assim que se escreve). Aliás, o Mano Changes já foi deputado (nem sei se reelegeu, espero que não), e figurou como um dos parlamentares que menos apresentou projetos. E o Danrlei, haha! ex-goleiro do Grêmio, que só foi eleito pelo fanatismo dos gremistas. Alguém por acaso acha que Mano Changes e Danrlei entendem mais de governo que o Tiririca? Para mim, são todos uns imbecis nesse campo. E pode até ser que o Tiririca lá em SP seja melhor que todos esses por aqui.

E é claro que há vários outros que eu não votaria de jeito nenhum. Peguei esses como simples exemplos. Sempre há gente pior que o Tiririca. Mas de quem ninguém fala nada. É fácil ridicularizar quem é palhaço. Eu prefiro ridicularizar os colarinhos brancos.

Apenas, não posso concordar com o Tiririca e seu slogan: “Pior que tá não fica”. Como diria Murphy: “Nada é tão ruim que não possa ficar pior”.

02 janeiro 2011

Três Rápidas Considerações Meio-Poéticas III

I

o homem sempre acha um jeito
de não ter que fazer
o que deve ser feito:
para quem acha que pode
sem pagar o preço
qualquer enfeite é perfeito...

II

tudo é retorno:
se a maçã que  colhemos
é bela por fora
mas bichada por dentro
larguemos de mão
e esperemos o giro
da gravidade do tempo...

III

o universo é movimento contínuo
por isso o Fim vai e volta
tudo ressurge e vai embora:
volta e meia o universo está calmo
e volta e meia ele se revolta...
como agora.

01 janeiro 2011

Poema em Có-digo

Santa Ana
é mãe de Maria...
quem sabe se na luz
também não há ironia?

ah se eu pudesse olhos
e depois descanso
pelo Mar de verde
pelo mar que ver(te)
este mal de Werther...

entre a treva da noite
(com (dis)tintos sanguíneos)
e o alvo da rosa
há dois lagos mansos...
quem me dera descansos...

a final por quê?
o que fazer com o ouro dos tolos?
por que presente aos inimigos?
e dádivas aos não-pedidos?
e carne para os cervos?

se eu tivesse o pi
calcularia os segredos
e se tivesse o voto
escolheria as sinas
e se tivesSe o cal e o com
ligaria as palavras
e a minha ave voaria...(?) 


ou é verdade mágica
ou é ilusório ótico...
não entendeste?
ótimo. 

30 dezembro 2010

Algumas Palavras Intensas para 2011

1) "O mundo, hoje pequeno e quase sem remédio,
Hoje, ontem e amanhã, nos faz ver nossa imagem:
Sempre um oásis de horror num deserto de tédio!"

Baudelaire

2) "É sempre assim com as coisas que os homens começam; há uma geada na primavera, uma praga no verão, e suas promessas fracassam... No fim, não sobra nada além do que 'poderia ter sido'."

Tolkien

3) "De que te serve o teu mundo interior que desconheces?
      Talvez, matando-te, o conheças finalmente... Talvez, acabando, comeces...

Fernando Pessoa

4) "Foi quando compreendi
     Que nada me dariam do infinito que pedi,
     Que ergui mais alto meu grito
     E pedi mais infinito!"

José Régio

5) "Pra que partir? Sempre se chega enfim...
     Pra que seguir empós das alvoradas
     Se, por si mesmas, elas vêm a mim?"

Mário Quintana

6) "Seu trabalho, sua existência bem regrada, sua família e seus interesses mundanos, tudo isso talvez não passasse de mentiras."

Tolstói

7) "Nas coisas muito secretas devemos ter pouca companhia."

Dante Alighieri

8) "Por que é que tão raras vezes se vê a torrente do gênio altear-se em grandes ondas, avançar rugindo e perturbar as almas? É porque os espíritos sensatos, temendo a devastação dos seus pavilhõezinhos, sabem evitar a tempo, por meio de diques, o perigo que os ameaça."

Goethe

9) "A ciência ocidental obscurece a visão quando apregoa que o único gênero de saber é o que está de acordo com ela."

Jung

10) "Há que se arranhar a alma com garras de tristeza para que entrem as chamas do horizonte astral."

García Lorca

11) "Ao mesmo tempo que existe um infinito ao nosso redor, há algum infinito dentro de nós mesmos?"

Victor Hugo

29 dezembro 2010

Três Rápidas Considerações Meio-Poéticas II

I

o meu sol
é o mais limpo
o mais puro
o mais sincero
e o mais esperado:

ele só vem 
depois da tempestade.

II

coração poderoso
é aquele que às vezes falha.

III

sobre Deus não.
é a antipalavra.

ou todas elas.

27 dezembro 2010

Se o Espaço é Curvo...

palavra que vai
palavra que volta
o que me trará
quando bater à minha porta?
para onde que irá
tudo o que digo?
o que é que me voa
naquilo que verbo?

que asa que bate
em cada meu verso?
que ave que canta
em cada segredo
se não sei se estou certo?

quem foi que me disse
isso que deixo?
quem foi que me fez
ser que não eu?

que preço que pago
pelo sopro que largo?
e daquilo que sinto
o que é que é meu?

quem é que me sonha
lá no que falto?
que deus que não sei
me sangrou e por quem?
que fim e que mãe e que luz e que alto?
o que é que me vem?

se o espaço é curvo
tudo fará volta...
eu espero o meu verso
vir me mirar na minha porta...

25 dezembro 2010

Há Perigo porque Há Silêncio...

olho de gato
que sentes tudo
sem perderes o gelo
que tudo sabes
sem dizeres palavra
olha por mim
como se eu te orasse
ora por mim
como se em ti sentisse...

és todo sentido
e indiferença
vês do todo o sentido
sem ver o sem-sentido todo
da filosofia e da crença...

no teu passo felino
há à presa perigo
porque nele há silêncio

e etéreo...

a quem te agride com a pedra
tu respondes mistério...

amigo
traze geada ao meu frio
e sentido
ao meu sentido
não, nenhum humano...
tu, Gato
és meu exemplo a ser seguido.

23 dezembro 2010

Dois Poemas para o Natal...

Abaixo, deixo dois poemas para o Natal. O primeiro é de Fernando Pessoa. O segundo é da minha humilde autoria, escrito durante o Natal do ano passado. Os dois poemas deixo como minha mensagem natalina aos amigos leitores do blog.

Poema de Natal

Natal... na província neva.
Nos lares aconhegados,
Um sentimento conserva
Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo, 
Como a família é verdade!
Meu pensamento é profundo,
Estou só e sonho e saudade.

E como é branca de graça
A paisagem que não sei,
Vista de trás da vidraça
Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa


Poema de Natal (o meu)

talvez te desejasse felicidades
a felicidade que ânsia pelos dramáticos angelicais
anos-luz de desejos que se afogam
nos impossíveis das idades...
mas não vou te desejar felicidades.

talvez te desejasse saúde
a saúde que sol pelos campos em tons azuis
verdes-luz de paisagens que se somem
nas contradanças do alaúde...
mas não vou te desejar saúde.

talvez te desejasse amor
o amor que céus pelas lunáticas infinitais
beijos-luz de sonhar-te que se vagam
ao som da mais clara cor...
mas não vou te desejar amor.

não, não vou desejar...
nem felicidades
nem saúde
nem amor
nem paz
nem calma

eu só te desejo Alma.

(Na imagem, o quadro "Anunciação", de El Greco.)

22 dezembro 2010

Palavras de Silêncio...

eu nunca digo teu nome
porque ele está em tudo que falo
e ainda mais no que calo
eu nunca calo teu nome
porque ele está em tudo que digo
esteja o ser
ou seja o eu contigo

teu nome é o verbo
de cada reverso
cada palavra
aqui bem ou mal-dita
é teu nome
em outro universo
em três letras de um código
sem sim
a ser fim
no alter-lado da vida

teu nome é um planeta que orbita
ao redor do núcleo de um átomo
e é um elétron que gira
ao redor do sistema de um sol
teu nome é alma e é som
e está só
e é pedra à estrela
e na pedra há uma estrela
seja em aura ou imersa
e vice-versa

o que mais sei
é o que não me disseste
mas sei que não saberei
todas as roupas que vestes
pela madrugada...

e como não Te dizer
se estás em tudo
e nadas cada vez mais
no meu nada?

21 dezembro 2010

Poemas do Término e Contos do Fim 41

A edição 41 do zine literário Poemas do Término e Contos do Fim estará disponível a partir da noite de hoje, dia 21/12.  Inclui a 1ª parte do conto "Agora Vou Lá. Tenho que Degolá-la." e os poemas "O Tornado",  "Poema Suicida", "Soneto aos Últimos Momentos" e "Poema Catastrófico nº3".

O zine 41 está também disponível digitalmente, gratuito, como a versão impressa. Para recebê-lo, basta que o leitor deixe seu e-mail aqui ou mande para reiffer@gmail.com, que então ele será enviado.

Em Santiago, os pontos de distribuição da versão impressa são os seguintes: locadoras Fox, Classic e Stop, biblioteca pública, biblioteca da Uri, Ponto Cópias e Livraria Santiago. Pode ser enviado para qualquer cidade do Brasil ou exterior, mediante o pagamento das despesas de correio.

Além de Santiago, o zine Poemas do Término e Contos do Fim possui distribuição nas seguintes cidades: Santa Cruz do Sul/RS, Santa Maria/RS, Porto Alegre/RS, Santo Ângelo/RS, São Gonçalo/RJ e Goiana/PE.
O trabalho de design da publicação é realizado por Guilhermes Damian.

19 dezembro 2010

Três Rápidas Considerações Meio-Poéticas

I

para toda vontade
existe um senão.
há quem queira seguir uma estrada
sem obedecer a sinalização.

II

o bom da ironia
(e isso não é uma ironia)
é que ela faz graça
sem trazer alegria.

III

percebo que o mundo
está em perfeito equilíbrio:
há um lado áspero
e outro liso...
o planeta me causa choro
a humanidade me causa riso. 

16 dezembro 2010

(Não-)Palavras a Beethoven

240 anos de Beethoven. Hoje. 16 de dezembro de 2010. Aqueles que acompanham o blog sabem que meu compositor favorito é Brahms. O maior herdeiro de Beethoven na música. Os meus 5 compositores prediletos, nesta ordem, são: Brahms, Beethoven, Bach, Wagner e Schubert (em sua última fase). Depois vêm vários outros, como Mahler, Chopin, Bartók, Bruckner, Shostakovich, Tchaikovsky, Händel etc. 

Mas o fato de considerar Brahms o número 1, não significa que eu considere Brahms como o melhor ou mais genial de todos. Brahms é com quem mais me identifico, o compositor que mais escuto, não há um só trecho da obra de Brahms que eu não ame profundamente. Agora, há dois compositores cuja genialidade é inigualável, na minha opinião: Beethoven e Bach. Beethoven foi o responsável pela maior revolução da história da música. A música é uma antes de Beethoven e outra depois dele. Por isso, deixo aos seus 240 anos uma humilde homenagem.

(Não-)Palavras a Beethoven

Tua música é sublime
porque não precisa dizer nada
para o ser...
o Ser é a Tua música.

tens razão:
para que dizer
alguma palavra
se a Verdade não está
em palavra alguma?

a Verdade é um sentido
que nos fala a cada nota
do que Tu não nos falas...

por isto
é que podendo Te dizer tanto
não Te digo nada:
és surdo para este mundo.

mas o que é afinal
que em Tua música há?
há tudo aquilo
que o homem nunca será.

(Na imagem, o quadro "Alegoria do Gênio de Beethoven", de Sigmund Hampel)

15 dezembro 2010

Wikileaks Para Desmascarar Pessoas

Os leitores do blog são pessoas bem informadas, por isso não me darei ao trabalho de explicar o que é wikileaks. Se por acaso alguém não souber, basta procurar no Google.

O que me surpreende, na verdade, não são as revelações que o Wikileaks tem feito de governos e políticos, surpreende-me o fato de as pessoas ainda se surpreenderem com tais revelações. É lógico que os governos, que os países, “pensam merda” de outros governos e outros países. E pensam coisas muito piores, que, segundo o próprio Wikileaks, nem chegaram a ser reveladas. Até porque não se teve acesso a todos os “podres. E pensam merda e fazem merda e depois a escondem. Assim como nós “pensamos merda” de outras pessoas e nunca revelamos, ou revelamos em segredo, assim como nós fazemos merda às escondidas. O que são os países? São o prolongamento de cada um dos habitantes que o compõem.

O Wikileaks é algo como um develador de pensamentos, de consciências. Felizmente, ele só existe para os países e seus governos e empresas. E se existisse um para pessoas? Que iria lá e expusesse o que pensamos e sentimos e fazemos ocultamente? Haha!  Que tragédia, hein? Mas seria algo bastante interessante. Imaginem quantos santinhos do pau-oco seriam desmascarados?  Quanta gente que se crê mui nobre, mui sublime, mui correta não veria seu telhado desabar...?

Nós, humanos, somos maus e egoístas. Eu sou. Eu admito. Eu sou egoísta, eu cobiço, eu tenho vaidades, eu sinto preguiça, eu desprezo, eu minto, eu sou misantropo, chego a ser mal-educado, indiferente, eu fracasso em muitas coisas, eu faço fiascos de vez em quando, bebo pra mais às vezes, fumo, enfim, eu confesso que sou eu. Eu não sou nenhuma flor que se cheire, eu não sirvo de exemplo. Mas eu me conheço. E quando nos conhecemos claramente podemos trabalhar melhor sobre nossos próprios defeitos. Porque percebemos quando os defeitos afloram. Aqueles que se julgam pessoas exemplares deveriam se auto-observar melhor...

Agora, há pessoas que se julgam perfeitas, ou quase isso, e adoram posar como bons moços, como perfeitas donzelas, como sábios impolutos, como mestres semidivinos, enquanto a perversidade fervilha por baixo das aparências. Em alguns casos enganam ou tentam enganar de propósito, noutros, enganam a si mesmos. Há pessoas que acreditam de fato que são absolutamente irrepreensíveis. E ai de quem disser o contrário. Existem pessoas que crêem que são as melhores coisas possíveis, que terão sucesso em tudo aquilo que possam empreender, que conhecem todas as verdades, que vivem dando conselhos e metendo o bedelho em tudo, como se os seus conselhos fossem o próprio Verbo de Deus. Talvez devessem fazê-lo diante do espelho.

É, deveria existir um Wikileaks para pessoas. Seria muito divertido. Eu iria rir de muita gente. Ou não riria, apenas ficaria com um sorriso irônico como o do Al Pacino acima, o meu ator preferido. E muito melhor que as minhas palavras é o poema do Fernando Pessoa abaixo. É o Pessoa desmascarando pessoas.


POEMA EM LINHA RETA
Nunca conheci quem tivesse levado porrada. 

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. 
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, 
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, 
Indesculpavelmente sujo. 
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho, 
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo, 
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas, 
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante, 
Que tenho sofrido enxovalhos e calado, 
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda; 
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel, 
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes, 
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado 
                                                               [sem pagar, 
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado 
Para fora da possibilidade do soco; 
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas, 
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo 
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho, 
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana 
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia; 
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia! 
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam. 
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil? 
Ó principes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses! 
Onde é que há gente no mundo? 

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 
Poderão as mulheres não os terem amado, 
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca! 
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído, 
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear? 
Eu, que venho sido vil, literalmente vil, 
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza. 


 Fernando Pessoa

14 dezembro 2010

Não Leiam Este Poema

não leiam este poema.
eu lhes proíbo.
não há nada aqui
que deva ser lido
tudo o que escrevi
há milênios foi fluído
tudo já foi dito
em verso melhor que o meu
nem sei por que eu sou eu...

escrevi uns versos tortos
velhos múmios mortos
que não me servem pra nada
e não adiantam ao leitor:
versos de bobagenzinhas
essas coisinhas
chatinhas
tipo cantos de amor...

por isso eu lhes proíbo:
não leiam este poema
nem sei
por que o fiz...

mesmo assim
ele será lido:
o proibido
é que te faz feliz...

Casa do Poeta de Santiago Completa 2 Anos

Neste dia 17/12, sexta-feira, a Casa do Poeta de Santiago, fundada em 13/12/2008, estará  realizando  a comemoração de seu 2º aniversário. Deixo os meus parabéns à Casa, que tanto tem feito pela cultura em nossa cidade. Abaixo, está o convite para todos os leitores do blog. Confira a programação.

13 dezembro 2010

Marcha do Crepúsculo Perdido

além daquele eternus
sonhava um sol...

a céu que não descia
pairava um mas

aquém do verde negro
loucura ao mar

azul velado à nuvem
cigarro e cruz

um álcool lento a lento
do que mais fiz

um vento em mão há Brahms
e um deus sem luz

fumaça em lança estrela
e espera em som

desejo insana a vida
fracasso e vã

sentir venena a rosa
tristeza o sul

há noite alenta escura
sou só meu fim

amém duele infernus
sonava um sou...


11 dezembro 2010

Poema Catastrófico n°4 – Morrer de Rir*

enquanto
os sinos do natal latejam
eu Rio dos Sinos
na minha propriedade
privada...

eu não passo de um peixe
esgotado...

com a minha boca-aberta
me esqueça
me deixe...

de tanto rir
fiquei sem ar
e o sino a soar
a asma do meu sarcasmo

o mundo
é mesmo um quadro deBosch...
e os homens
são superiores de fato:
enquanto eu só rio
eles merditam
ao ondular dos sinos
pra lá e pra cá:
mar de
mer da
mar de
mer da
mar de
mer da...

* Poema ao novo desastre no Rio dos Sinos, no RS, onde uma quantidade absurda de esgoto jogado em suas águas causou a morte de várias toneladas de peixes, durante a piracema. O volume de esgoto despejado no Rio dos Sinos foi tão imenso que atingiu outros rios, como o Guaíba, em Porto Alegre.

10 dezembro 2010

" é um cachorro louco..."

Desnecessário apresentar este imenso poeta brasileiro, o genial Paulo Leminski. Até porque já o fiz aqui no blog. Vou deixar que ele se apresente em versos. Dois poemas:


O Paulo Leminski

O Paulo Leminski

é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau e pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filho da puta
de fazer chover
em nosso piquenique


em matéria...

em matéria
de tino
menino
eu tenho dez

quiser
tenho até
um destino
a meus pés

as flores
são mesmo
umas ingratas

a gente as colhe
depois elas morrem
sem mais nem menos
como se entre nós
nunca tivesse
havido vênus

Paulo Leminski

(Na imagem, o quadro "O Almoço na Relva", de Manet.)

Contas de Chicão Rejeitadas. Parlamentar Terá que Devolver R$10.000.

Os blogs santiaguenses irão noticiar que a prestação de contas de campanha do deputado estadual eleito José Francisco Gorski  (Chicão) foi rejeitada pelo Tribunal Regional Eleitoral?

A notícia foi veiculada no jornal "Diário de Santa Maria" desta quinta-feira, dia 9 de dezembro. Segundo o jornal, "o TRE alegou que o parlamentar 'arrecadou recursos de forma indevida, inviabilizando a identificação de sua origem." Chicão terá que devolver R$ 10.000 ao Tesouro Nacional.

Segundo Chicão, os recursos foram doados pelo PP de Santiago diretamente a sua conta. Porém, ainda que tenha sido assim, a legislação eleitoral obriga que a doação seja feita ao diretório estadual do PP e só depois repassada ao candidato. 

É o jeitinho brasileiro...?

08 dezembro 2010

Tu és Deus

Tu, Tempo, és Deus...
Teu é o trono
que nos traga
a que Te trago
e a que me entrego
Teu é o trovão de thor
o troar do martelo
é Teu
ante o torvo do que tememos
és tigre
e treva
Tua é a tuba Tua é a trompa
Tua é a trombeta
na troça treda
da tormenta
Tua é do tormento
a taça trágica
e a traça tétrica
tumularmente arrastadas
às tampas das tumbas...

ave Tempo!
e o pulo preciso do Teu puma
e o peso do punhal no Teu pulso
e os passos do Teu compasso
e a pressa do Teu presságio
e a presa da Tua praga
que ninguém pisa e todos passam
e só Tu apagas...
Tu preparas o pesar
da tempestade
e só ao passar o temporal
é que Tu Tempo
(que o tempo passa...)
trazes entre as torres
o sol
da Verdade.

(na imagem, o quadro "O Triunfo da Morte", de Bruegel)

07 dezembro 2010

Década de 2001 a 2010 é a Mais Quente da História

Segundo um estudo realizado pela agência meteorológica da ONU, o período entre 2001 e 2010 é o mais quente já registrado desde que começaram os registros, em 1850. 

Os dados foram divulgados durante as negociações climáticas em Cancún, no México, e confirmam a tendência de aquecimento global. 2010 já está entre os três anos mais quentes da história dos registros, perdendo apenas para 2005 (o mais quente de todos) e 1998. Porém, a diferença de temperatura média entre os três anos é de apenas 0,02ºC.

O estudos também afirmam que os invernos excepcionalmente frios na Europa não estão afetando a média global, pois há regiões da Terra onde as temperaturas estão em uma elevação muita acima da capacidade redutora dos invernos europeus. É o que ocorre, por exemplo,  nas imensas áreas de desertificação que se alastram incessantemente em todos os cantos do planeta. E se os invernos da Europa têm batido recordes, o mesmo se dá com os verões. Este ano, a Rússia registrou uma mortífera onda de calor, com temperaturas atingindo quase os 40ºC, algo nunca antes visto em território russo.

Quanto ao Brasil, basta que recordemos a seca recorde da Amazônia. Da Amazônia.

E assim caminha a humanidade...

06 dezembro 2010

Soneto à Hora da Morte de Brahms

(Segundo frau Tuxta, Brahms chorou de tristeza à hora da sua morte, o motivo não lhe pôde dizer: “Quando vi que as suas tentativas eram inúteis, vi que grandes lágrimas começaram a cair dos seus olhos e a rolar pelo seu rosto abatido. Fitou-me com tristeza, deixou-se cair e expirou”.)

tensas e trágicas lágrimas tuas
furiando em ondas à força e à peso
ressoo de angústia sangrou-te o desejo
cantos e mares amores e luas...

invernos de febre em lágrimas duas
rompeu um violino o cosmo indefeso
e além dos teus olhos noites eu vejo
e um céu em silêncio às musas já nuas...

um denso pesar voou ao fatal...
o que é isso em ti que insano me abrigo?
que é este sonho que me arma um sinal?

lágrima lenta que lento eu te sigo
morre o sentido degrau a degrau...
deixa-me oh Brahms que eu sinta contigo...

04 dezembro 2010

Miniconto-Poema de Febre

eu sinto o cheiro da tua voz de almas
entre palavras que não mais existem
só digo aquilo que não tem sentido
a ver se toco o meu alado cravo
ali morri como se fosse um lobo
e do sedento eu me acenei teus olhos
estava lá ao nunca mais cantando
por entre abismos de um planeta doente
mas foi no sim que pressenti teu verde
porque a pintura me esqueceu sonhando...

fiz uma história em doze versos-febre:
não tenho culpa se não me entendeste...

03 dezembro 2010

Tua Sombra (no estilo de Cruz e Sousa)

Tua Sombra antiga em voz...
sempre mais aqui entre nós.

teu abraço em beijo e sangue...
traz mais paz que o sol exangue.

és um anjo em meu instinto...
és sombra em tudo que sinto.

sonho com tua tormenta...
som que meu lábio sustenta.

teu silêncio em toda parte...
no frio segredo de amar-te.

ao sopro-hino do teu sino...
tu erguerás o meu destino.

serás febre em  minha lira:
o mais é clara mentira.

(na imagem, o quadro "Lua sobre o Mar", de Dmitriev)

02 dezembro 2010

Os Traficantes Perderam, mas as Drogas Triunfam

A vitória das forças policiais e armadas contra os traficantes no Rio de Janeiro merece toda a nossa consideração, foi um golpe profundo no tráfico de drogas. Porém, o que vai realmente mudar?

Por que existem os traficantes? Primeiro, porque, lá, nas favelas, que expectativas e sonhos eles podem ter? Virar um trabalhador vítima da exploração do capitalismo, recebendo um vergonhoso salário mínimo para esgotar a sua vida em uma quase escravidão? Ser discriminado e odiado por toda a sociedade por ser pobre e/ou por ser negro e/ou por morar numa favela? Suas únicas esperanças são contemplar mauricinhos e patricinhas consumindo tudo o que desejam em suntuosos shopping centers, desfilando em carros de último modelo, sem precisar trabalhar, resplandecendo em aristocráticas aparências físicas e vivendo em palácios pagos com o dinheiro arrancado daqueles que trabalham. Esta é a sociedade do consumo, e todos desejam consumir cada vez mais. Não é assim?

Esses jovens que vivem nas favelas não têm o direito de sonhar e desejar como têm os outros? Todos dirão que sim. Mas ninguém dará oportunidade a eles de concretizar suas expectativas. Então, por que não traficar? Se isso renderá muito dinheiro e poderá satisfazer seus sonhos de consumo... E mais, isso proporcionará a vingança contra a sociedade que só mal faz a esses excluídos. Sim, pegar em armas, vingar-se daqueles que não estão nem aí para os favelados e os odeiam e os ridicularizam. Por que não? Quem irá dar uma lição de ética e de moral a eles? Com que autoridade? Os traficantes são violentos? E a sociedade que os oprime, muito antes de serem traficantes, antes mesmo de nascerem, ainda na barriga da mãe, é o que?

Alguém dirá que nem todos os favelados viram traficantes. É verdade, os outros aceitam a opressão. Por tal ou qual motivo, mas aceitam. Não estou dizendo que se deva combater a opressão traficando drogas, claro que não, mas digo que os favelados não encontram outra maneira de fazê-lo, a não ser entrando no tráfico. Não é lhes oferecida outra oportunidade. É de interesse das elites que os pobres permaneçam sempre pobres.

E por que há tráfico? Porque há quem compre aquilo que é traficado. E há muita gente comprando. E há cada vez mais. A droga triunfa no mundo inteiro. Seu consumo cresce incessantemente a olhos vistos. E enquanto houver quem compre, haverá quem venda. Se não forem os caras do Morro do Alemão, serão outros. O tráfico vai continuar do mesmo jeito. E sempre será forte. E não há tráfico sem violência. Se algo é contra a lei e é combatido com a arma, só é eficiente com a força da arma. E os mesmos que abominam essa violência querem a “coca” nossa de cada dia. E pagam os traficantes de muito bom gosto. E depois pagam com seus impostos a polícia para combatê-los. A humanidade é mesmo uma piada.

E a droga, amigos, a droga é um símbolo dos tempos pós-modernos. Por que se consome drogas? Para a grande maioria dos usuários, é porque não se encontra nenhum sentido na vida. Não é por diversão propriamente dita. É porque a diversão se transformou no único sentido da vida para muita gente. A diversão é uma forma de aliviar as frustrações de uma vida que não leva a lugar algum. E a “diversão” proporcionada pelas drogas talvez seja uma das mais intensas. Usar drogas é, também, estar incluído em um grupo. E se busca esse grupo porque é como se fosse uma fuga do vazio de um mundo egoísta, destituído de valores, onde a família se desintegra, onde não se encontra um ponto de apoio, onde consumir e parecer são os únicos objetivos.  Depois a diversão vira pesadelo. Mas aí...

A humanidade caminha para o caos. E o caos é a terra fértil onde as drogas germinam. Por isso, essa vitória contra o tráfico é uma ilusão. Ele continuará firme e forte. Se não for com os mesmos traficantes, será com outros.