22 novembro 2013

Roessler e Augusto dos Anjos: dois Profetas Ambientais

É, pode-se dizer que o foram. Henrique Luiz Roessler, poucos sabem quem foi. Falecido há 50 anos, gaúcho de Porto Alegre, foi um dos primeiros ambientalistas brasileiros, preocupava-se com a destruição ambiental em uma época em que quase todos achavam que isso era uma grande bobagem. Ainda hoje há gente que pensa que é bobagem. A historiadora Elenita Malta Pereira lançou este ano o livro "Roessler - O Homem que Amava a Natureza".

Roessler deixou frases proféticas como estas: "Sempre que a atividade humana interfere nas imutáveis leis da natureza provocando o desequilíbrio ecológico, ela se vinga terrivelmente". 

Foi dos primeiros a denunciar os crimes ecológicos. Disse sobre o Rio do Sinos, quando ainda não era tão sujo como hoje: "Tudo é lançado no rio, como se fosse lata de lixo ou esgoto cloacal".

Sobre o massacre de animais: "Milhões de animais são sacrificados anualmente em nome da ciência". 

A historiadora Elenita afirma sobre Roessler: "Ele tinha essa concepção da natureza como algo sagrado, quase religioso. Associo um pouco isso com o Romantismo alemão".

Já o Augusto dos Anjos, poeta hoje consagrado,  respeitado até fora do Brasil pela sua extrema originalidade, em seu tempo quase não obteve nenhum reconhecimento. Porém,
estudiosos de sua obra afirmam de forma convicta que várias de suas poesias previram acontecimentos catastróficos com a humanidade, como a 2ª Guerra Mundial e as explosões nucleares no Japão.  Ele foi, sem dúvida, como diz um de seus poemas, "Espião da cataclísmica surpresa..."


E também o foi na questão ambiental, lá nos primórdios do século XX.  É o que vejo no soneto abaixo:


A Árvore da Serra

- As árvores, meu filho, não têm alma!
esta árvore me serve de empecilho…
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros… no junquilho…
Esta árvore, meu pai, possui minha alma!…

- Disse – e ajoelhou-se, numa rogativa:
“Não mate a árvore, pai, para que eu viva!”
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!

Augusto dos Anjos

Também um dia, abraçados em troncos de árvores cortadas, os homens nunca mais se levantarão da terra.
(Acima, o desastre da mortandade de peixes no Rio do Sinos há alguns anos.)

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