05 julho 2010

“Agora Vou Lá. Tenho que Degolá-la.”

Aqueles fenômenos foram chamados de “El Niño” e “La Niña”. O aquecimento das águas do oceano Pacífico. Mas ninguém sabia com certeza o porquê, a causa exata de seu surgimento. Ou se alguém sabia, omitia a verdade. Ou se alguém dissera a verdade, ninguém acreditara. Somente o que se comprovou com o trágico passar dos anos é que tais fenômenos não eram normais, como afirmavam alguns cientistas, ou ignorantes, ou mal intencionados.

O fato é que o aquecimento das águas era real e se intensificava gradualmente com o passar dos anos, e não somente no oceano Pacífico, mas foi atingindo também os demais oceanos. Claro que tal anômalo fenômeno tinha relação com o aquecimento global ocasionado pelo acúmulo de gases poluidores na atmosfera terrestre. Muito embora, no princípio, houvesse um considerável número de cientistas que duvidassem da veracidade do aquecimento global, com o passar dos anos, tal elevação confirmou-se de forma irrebatível.

Porém, o aquecimento das águas dos oceanos não ocorreu somente devido à elevação da temperatura atmosférica. As grandes potências admitiram mais tarde. Haviam realizado durante décadas experiências e testes atômicos no fundo do mar. Pequenas e sucessivas explosões nucleares supostamente controladas. Aos poucos, o leito dos oceanos foi se abrindo, rachando assustadoramente, com o consequente contato das lavas do magma terrestre com as águas marinhas. Obviamente, com o tempo, a temperatura das águas foi se elevando, situação agravada pelo aquecimento atmosférico.

O efeito sobre o planeta das altas temperaturas das águas oceânicas foi absolutamente catastrófico. Os primeiros sinais foram relativamente leves e deram-se principalmente sobre o clima do planeta. O número de tempestades, tornados, ciclones, furacões, secas e enchentes foi crescendo gradativamente. E não só tais fenômenos tornaram-se mais numerosos e frequentes, mas também mais intensos, mais impiedosos, mais devastadores.

Paralelamente, perceberam-se alterações na vida marinha, tanto na animal como na vegetal. Após anos de análises, foi comprovada não só a redução das populações oceânicas, como também a extinção de incontáveis espécies. Em pouco tempo, cerca de um terço de toda vida marinha fora varrida dos oceanos, a começar pelos corais, que principiaram a perder suas variedades e colorações, até, finalmente, perder a vida.

(...)

Agora, estamos no ano de 2047. Os seres oceânicos encontram-se praticamente extintos em sua totalidade de espécies. As tempestades e furacões e secas e inundações tornaram a vida impossível em imensas regiões do globo e dizimaram enorme parcela da humanidade. Isso sem falar no aumento drástico dos terremotos e tsunamis. Até mesmo regiões consideradas antigamente como situadas fora das áreas de risco são agora afetadas por tais catástrofes. A humanidade durante muito tempo intentou lutar desesperadamente contra as tragédias ambientais que se desencadeavam de forma cada vez mais avassaladora, porém tudo resultou em retumbantes fracasso. Já era tarde demais. No momento em que ainda resultava possível evitar que a fúria do planeta recaísse sobre a civilização, não o fizeram. De modo que o nosso destino já estava selado.

Há alguns anos, quando a incidência de terremotos principiou a se tornar alarmante, os cientistas intentaram encontrar explicações para o fato. Não obtiveram êxito. Ou, se encontraram determinada resposta, deveria ser algo definitivamente inevitável, porque nada foi divulgado, ao menos não oficialmente. Surgiram rumores, jamais confirmados, de que algum astro provavelmente desconhecido estaria interferindo no campo gravitacional da Terra, em seu magnetismo, e desse modo causando inauditas alterações geológicas no planeta. Até hoje, não se sabe o que está ocorrendo com a Terra, além, é claro, do massacrante desequilíbrio causado pela poluição infrene e pela exploração desmesurada dos recursos naturais. Mas algo além disso, algo extremamente grave está acontecendo...

Há cerca de cinco anos, foi notada uma leve alteração na cor dos céus. Não era mais aquele azul celeste reconfortante, mas sua tonalidade havia sido sutilmente modificada, tornara-se opaca, desbotada, amarelecida talvez, porém, era algo quase imperceptível. E eu posso jurar que, há alguns meses, além da opacidade, os céus passaram a apresentar, com a quase imperceptibilidade ainda maior, uma sugestiva e inquietante tonalidade avermelhada...

Amanhã, a continuação.

(Na imagem, o quadro "Dante e Virgílio no Inferno", de Bouguereau)

7 comentários:

Vampira Dea disse...

Fiquei passada agora com as ligações.
É verdade e ainda comemoramos colocando nomes de lugares que sofreram em roupas de banho.
Adoro esse quadro.

Anônimo disse...

Você referiu o que houve, o que está acontecendo e o que vai acontecer... A frase final me deu arrepio na espinha! Aguardo ansiosa pela continuação!

Batom e poesias disse...

Você escreve muitíssimo bem. Em prosa e verso.
Voltarei para saber nosso futuro.
bjs

Rossana

Anônimo disse...

O que os capixabas pensam sobre Mudanças Climáticas?

De modo a conhecer o perfil de percepção ambiental da sociedade frente à problemática (causas, efeitos, prós e contras) das Mudanças Climáticas, tendo como base a Região da Grande Vitória, ES - municípios de Vitória, Vila Velha, Serra e Cariacica - o Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA (grupo sem fins lucrativos), desenvolveu uma pesquisa (35 aspectos abordados) com 960 pessoas (+ - 3% de erro e 95% de intervalo de confiança), com o apoio da Brasitália Mineração Espírito Santense.

Metade dos entrevistados foi de pessoas com formação católica e, os demais, evangélica. Apesar de a amostra ter sido constituída dessa forma o objetivo da pesquisa não visa individualizar os resultados para cada segmento religioso em questão. Em um segundo estágio da análise dos dados (banco de dados do SPSS) isso ocorrerá, quando serão explicitadas diferenças de percepção ambiental dos dois grupos – católicos e evangélicos – mas sem nominar a origem de formação religiosa dos membros da amostra.

Os entrevistados admitem ler regularmente jornais e revistas (48,1%), assistem TV (58,3%), não participam de Audiências Públicas convocadas pelos órgãos normativos de controle ambiental (88,9%), bem como de atividades ligadas ao Meio Ambiente junto às comunidades (não – 43,2% / não, mas gostaria – 39,7%), apresentam um reduzido conhecimento das ONGs ambientalistas (4,9%), não acessam (72,8%) sites ligados à temática ambiental (19,1% não tem acesso a computador), além de indicarem o baixo desempenho das lideranças comunitárias no trato das questões ambientais (29,2% / sendo que 40,0% admitem não conhecer as lideranças de suas comunidades), e admitem interesse por temas ligados à temática ambiental (42,3% / 44,2% apenas às vezes).

Admitem conhecer termos (não verificada a profundidade do conhecimento assumido) como biodiversidade (63,6%), Metano (51,7%), Efeito Estufa (81,3%), Mudanças Climáticas (84,7%), Crédito de Carbono (26,0%), Chuva Ácida (57,8%), Agenda 21 (16,5%), Gás Carbônico (60,9%), Clorofuorcarbonos (36,6%), Aquecimento Global (85,4%), bicombustíveis (74,1%), Camada de Ozônio (74,3%) e Desenvolvimento Sustentável (69,5%), com 70,0% do grupo relacionando às atividades humanas às Mudanças Climáticas e que a mídia divulga muito pouco os temas relacionados ao meio ambiente (44,2%), apesar da importância do tema.

A ação do Poder Público em relação ao meio ambiente é considerada fraca (48,2%) ou muito fraca (30,2%), os assuntos ligados à temática ambiental são pouco discutidos no âmbito das famílias (60,1% / 15,5% admitem nunca serem discutidos), enquanto a adoção da prática da Coleta Seletiva só será adotada pela sociedade se for através de uma obrigação legal (34,3%) e que espontaneamente apenas 35,7% adotariam o sistema. Indicam que os mais consumos de água são o “abastecimento público” (30,3%), seguido das “indústrias” (22,9%) e só depois a “agricultura” (10,7%), percepção inversa a realidade.

Em análises em andamento, os resultados da pesquisa serão correlacionados com variáveis como “idade”, “gênero”, “nível de instrução”, “nível salarial”, “município de origem”, entre outras, contexto que irá enriquecer muito a consolidação final dos resultados, aspectos de grande importância para os gestores públicos e privados que poderão, tendo como base uma pesquisa pioneira no ES, definir ações preventivas e corretivas voltadas ao processo de aprimoramento da conscientização ambiental da sociedade.

É importante explicitar que, com o apoio do NEPA, está pesquisa já está sendo iniciada em outras capitais. O grupo está aberto a realizar parcerias de modo a assegurar, progressivamente, o conhecimento do perfil nacional da sociedade em relação à temática das Mudanças Climáticas. Não há como ignorar, se é que ainda não se deu a plena atenção a este fato, a importância da participação consciente da sociedade nas discussões que envolvem este importante tema.




Roosevelt S. Fernandes, M. Sc.
Núcleo de Estudos em Percepção Ambiental / NEPA
roosevelt@ebrnet.com.br

Luna disse...

A Reiffer..é assustador, aterrador
e infelizmente é o quadro real de nosso futuro.
Depois de entender que a maior parte da culpa é ''nossa''(humanos)
Realmente estou convicta que,
somos os maiores predadores já
existentes no planeta.
Destruimos lentamente e as vezes
sadicamente a propria carne,
o proprio sangue, o proprio lar (terra).

aff,vou indo,hoje ñ estou no melhor dos meus dias, a decepção insiste em ficar de guarda ao meu lado...
então me desculpe por qquer coisa.
bju em seu coração...

Inside Me disse...

ai, agora eu fiquei com medo oO
mas esqucendo um pouco o medo: parabéns por essa coerência toda, é de arrepiar... kero ver o resto tb ^^
ta vendo q ue disse ghandi: "Eu temo pela nossa espécie qd lembro que Deus é justo."
=x

Mensageiro Obscuro disse...

Gosto muito da sua mistura de consciência ecológica com terror, é bom misturar realidade com fantasia, sendo capaz de produzir bons textos que ainda tenham um significado prático para a reflexão da vida como ela é.